segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

PARATY, CADUCO E O NOÉ


Apanhámos o ônibus do Rio para Paraty, já tinha estado em Paraty de passagem no ano anterior e ficou na minha lista de lugares a voltar.
Queríamos ir a Trindade, disseram-nos que era um paraíso. E é.
No segundo ônibus, de Paraty para Trindade perguntámos a um rapaz:
- Oi, 'cê' sabe qual a paragem para Trindade?
- Eu moro lá, disse o Caduco, que era como lhe chamavam.
Então saímos na paragem certa com o Caduco, que era estudante e pescador.
Por acaso tinha pescado um peixe grande nessa manhã e convidou-nos para almoçar na casa dele.
Fomos.
Tivemos de andar pelas praias e trilhas cerca de 45 minutos porque o Caduco vivia no meio do mato. Não foi fácil! Principalmente para um Ser como eu, que tem fobias de todo o género de insetos grandes e devo ter encontrado 99% das espécies existentes nesta caminhada... Mas lá fomos! 
Tenho a sensação de ter ido à Amazónia sem dar por isso.
O Caduco vivia numa espécie de celeiro que lhe tinha sido cedido por uma família amiga, porque ele era sozinho. Tinha uma história triste mas era um rapaz de 21 anos  com muita energia boa.
Tinha dois andares este celeiro, sem portas e sem janelas, refiro-me ao vidro em si, porque os buracos estavam lá. Ele dormia no primeiro andar, numa tenda porque às vezes chovia lá dentro. Que não vos soe a coitadinho, porque a casa era linda, mesmo.
Comemos o peixe com arroz e pirão, que é uma papa de farinha feita numa panela com o caldo da cabeça do peixe e o resto do peixe foi feito na folha da bananeira do quintal.
Estamos a almoçar, e as folhas começam a mexer em direção a nós, vinha lá alguém...
Aparece um cão meio coxo:
- Coitadinho, está coxo, observei.
- Deve ter sido uma cobra que o mordeu, isto anda cheio de cobras ultimamente, respondeu-me o Caduco.
Fiquei tão descansada...
Comecei logo a pensar em estratégias de saída dali que não envolvessem ter os pés no chão, quem sabe... voar?
Esqueci-me disto tudo passado 30 segundos, quando aparece o dono do cão.
Parecia que estávamos num set de rodagem, aparece um homem moreno, alto e bronzeado em tronco nu e descalço, a afastar as folhas da bananeira como se tivesse ensaiado a sua entrada num videoclip. O clube feminino ficou em silêncio. Total.
O meu cérebro fez-me um resumo das últimas 4 horas em frames:
Saí de casa hoje de manhã; apanhei um ônibus para Paraty; conheci um pescador; Estou na casa dele(!) que é no meio da Amazónia; ultrapassei as minhas fobias e agora tenho o Cauã Reymond cá do sítio à minha frente a fazer mais um dos seus truques de magia para o público feminino. 'Tá certo', ainda bem que saí de casa.
Falámos, chamava-se Noé (ainda por cima) o nome tinha tudo a ver.
Tinha sido a família do Noé que tinha cedido a casa ao Caduco, eram amigos de longa data e todos os dias estavam juntos.
Começou a anoitecer e o meu alarme dos medos começou a tocar "Então se 'isto ultimamente tem andado cheio de cobras' vai ser um forrobodó para o meu sistema nervoso descer este quilómetro até à praia às escuras", pensei e resolvi agir
- 'Bora'?
Voltámos para Paraty que é um romance só!
Muito português, muito arranjadinho e com o calor brasileiro é uma conta de somar com resultado certo.


Paraty e Trindade continuam na minha lista: A Voltar!





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