terça-feira, 21 de outubro de 2014

Minhocas fluorescentes

Vamos ver o céu às McLaren Falls hoje à noite!
Já lá fui várias vezes e quero sempre voltar. 
Quando a Christine, a amiga que fiz em Sydney, se cruzou comigo na Nova Zelândia, passamos lá umas horas.
Não pude deixar de lhe mostrar este lugar.

Nas McLaren Falls o meu batimento cardíaco já acelerou várias vezes. A primeira vez que lá fui foi para saltar da cachoeira mas não tive coragem. Devo ter ficado mais de meia hora a olhar para baixo e desisti.
Fui lá no dia seguinte para provar a mim mesma que consiguia, como se pode ver na fotografia, um leitão voador.
As caminhadas noturnas, como vamos fazer hoje, também me deram um friozinho na barriga da primeira vez, está muito escuro, ouvem-se todos os barulhos da natureza e não se vê nada a não ser aquele céu maravilhoso de pirilampos!
Chamam-lhes glow worms, são umas minhocas luminosas minúsculas. 
Parece meio magia caminhar perto do lago com estrelinhas a acompanhar!
Os glow worms podem ser vistos em vários lugares da Nova Zelândia, nas Waitomo Caves especialmente, onde foi tirada a fotografia abaixo. É uma visita guiada cheia de histórias num barquinho.
Mas nas McLaren Falls somos só nós e a noite, eu adoro.

É o que vamos fazer hoje depois do jantar!




Um pulo aqui ao lado

Eu e o Matheus decidimos dar um pulinho aqui ao lado de Mount Maunganui, e seguimos para Rotorua que fica a uma hora e pouco daqui.
Rotorua é conhecida pela sua atividade geotermal, disseram-me que era lindo. Se é...
A Nova Zelândia às vezes parece um pedaço de terra esquecido no mundo, onde tivemos a sorte de dizer: PRESENTES!
Em Rotorua relembrei como é bom tomar banho nas piscinas termais, como fiz no Japão. Dorme-se profundamente depois de se boiar 15 minutos naquela água a ferver e é um mimo para o corpo.
O lugar é abençoado, tem lagos, vulcões e floresta, paragem obrigatória na Nova Zelândia.

Depois de Rotorua seguimos para Taupo, que é muito perto.
Taupo partilha das mesma atrações geotermais de Rotorua mas é mais turístico, tem muita gente e o centro tem mais oferta, algo pouco comum neste país (no bom sentido).
Taupo é também muito sonante pelos desportos radicais, é aqui que se fazem os famosos skydiving e bungee jumping na Nova Zelândia.
Tínhamos de fazer qualquer atividade em Taupo, o Matheus estava em pulgas para me arrastar para o bungee, mas a nossa carteira escolheu o paintball que tem tudo a ver.
Acordar as 8 da manhã para ser baleada, não é muito convidativo, mas não podia ser uma menina e fui. E fui baleada. E dói.

A caminho do lago de Taupo descobrimos umas piscinas quentes naturais, são num cruzamento de dois rios, um quente e um frio. Eu e o Matheus temos uma aposta a decorrer: sempre que encontrarmos uma cachoeira temos de tomar banho. Desta vez não foi difícil.

Teminámos o passeio na Redwood Forest, uma floresta com árvores arranha-céus e lagos turquesa, um cenário montado!





quarta-feira, 28 de maio de 2014

Teresa, a atleta

O Matheus não se conforma com a minha falta de aptência para o desporto, principalmente o surf.
Então isto tem sido uma luta... Primeiro que me conseguisse por de pé em cima da prancha! Neste caso trata-se de um stand up paddle, que é quase um barco.
A estratégia era: íamos os dois em cima da prancha a remar até apanharmos a onda e depois eu seguia sozinha. Nunca valorizou as minhas performances acrobáticas enquanto estava a ser enrolada, o que geralmente acontecia assim que me via sozinha em cima da prancha. 
Diverte-me muito, embeleza-me as manhãs e dá-me energia para o dia.
É bastante deconfortável estar num habitat de tubarões e raias, mas o segredo é não pensar nisso, diz o Matheus, o expert.
Os dias foram passando, estava tudo a correr bem, eu sentia cada vez mais vontade e senti-me a evoluir, (numa escala de 0 a 10, estava no 1).
Um dia de manhã, que parecia igual aos outros todos, lá vamos nós para a praia. Esse dia teve direito a aquecimento sem rir, se há coisa que tira o Matheus do sério é não estar atenta à aula, então quando ele começa com as séries de abdominais, o truque é rir para descansar um bocadinho.
Entrámos no mar, o Matheus a nadar e eu na prancha. Começo a ser arrastada assim que começo a remar, a uma velocidade desconfortável. Começo a ver o Matheus a ficar cada vez mais pequeno, a areia mais longe, medo. Penso em chorar, mas achei que não era para tanto. Passados 20 minutos e eu cada vez mais longe, já berrava. 
Não via ninguém, não conseguia lutar contra a corrente, e a ideia dos tubarões não é fácil de afastar quando nos vemos a boiar em alto mar.
Este episódio durou 1 hora. Uma hora de medo parece 1 semana, dá tempo para pensar em muita coisa, todos os tipos de conspirações assassinas.
Quando comecei a ver o Matheus a nadar na minha direção, deixei de panicar.
Depois de estarmos os dois em cima da prancha, chegou o resgate, que me levou com velocidade até à areia.
Não foi bom, mas já passou.
Passados dois dias lá fomos nós outra vez, para não ficar com medos.
Depois disso já me diverti muito, mas continuo sem queda para a coisa.
Ponho-me de pé só isso já é um máximo!

terça-feira, 27 de maio de 2014

Fiz uma amiga em Sydney

Aterrei em Sydney depois da minha noite de despedida das Fiji.
A cabeça chocalhava  as Fiji Gold e Bitter e ainda os cocktails tropicais da happy hour do dia anterior. Foi neste estado mumificado que cheguei ao meu hostel em Kings Cross.
O plano para o meu primeiro dia era proporcionar-me o máximo de conforto possível, o que compreendia: tomar um bom banho, ter silêncio e espaço para me instalar na camarata (supostamente de 4 camas) e lavar a roupa toda.
Chumbei quase todas estas etapas.
Era Mardi Gras e eu não sabia. A Parade era no dia seguinte e toda a cidade, especialmente o meu hostel, estava em alvoroço. 
O meu quarto, que por problemas de over booking passou a ser para 10 pessoas, presenteou-me com o jogo do entra-e-sai-o-maior-número-de-vezes-possível e se se bater a porta somam-se mais pontos, ao som de um remix de ABBA vindo do quarto ao lado.
Desisti de descansar e decidi ir lavar a roupa.

A tentar decifrar o programa da máquina de lavar estava a Christina, uma austríaca de 27 anos que tinha um projeto de viagem muito parecido com o meu.
A Cristina encontrava-se em descanso de corpo e mente em Sydney, a ideia era carregar baterias antes do seu último destino: Nova Zelândia.
Era esse o plano até me ter conhecido.
Passadas duas horas, estavamos a celebrar as nossas travessias acompanhadas por algumas cervejas num Bingo de travestis em Kingscross, e naturalmente, decidimos passar o resto dos dias juntas até à data do meu voo para a Tasmânia.
No dia seguinte era a Parade, e aí então é que os planos de descanso da Christina se foram por água abaixo. Muita gente, música, carnaval!
O nosso traje não era propriamente o mais adequado à ocasião, eu usei as peças de roupa que tinham secado do dia anterior, tratava-se de uma espécie de pijama, e a Christina como sempre, apresentou-se com o seu treking style.
As horas passavam aos pares, comemos e bebemos, dançámos e conversámos.
Terminámos a noite num Thai-Mexicano (go figure)...
E foram uns dias cheios, com muita partilha e amizade. 
A Christina ainda me apanhou na Nova Zelândia passados dois meses e eu levei-a a ver os pirilampos das McLaren Falls.
Quando viajo e faço amigos sinto-me numa colónia de férias, apesar de nunca ter feito nenhuma, lembro-me dos relatos dos meus amigos que faziam. Falavam-me de pessoas e relações travadas em duas semanas na colónia de férias e algumas ainda hoje existem.
Porque é assim, a vontade está lá, tudo parece grande e acontece mais rápido.
Tenho umas aulas de ski à minha espera na Áustria!




Au Fiji avec les chiens

Ilhas Fiji, suas lindas.
Cheguei com aquela boa sensação de estar sozinha. Um calor que me abraçou mal cheguei, um hostel na areia, "estou como quero", pensei.
Cheguei a Nadi sem planos, queria falar com alguém antes de escolher as ilhas que queria visitar.
Mas o fator preço escolheu por mim, fui para as duas mais baratas: Nananu-i-Ra e Mana, também fui para a Beachcomber, que fugiu um bocadinho ao barato, mas valeu cada tostão.
Não fui sozinha, fui muito bem acompanhada. Acabada de chegar ao meu quarto, conheci as minhas room mates, a Christine do Canadá e a querida Anne-Laure, francesa.
A Anne, adotou o nome Ana, assim como eu adotei o Maria porque toda a gente percebe à primeira e não temos de soletrar. Nas Fiji éramos as 'Áná' e 'Márriá'.
A Ana estava a viajar com mais dois franceses que conheceu na apanha do kiwi na Nova Zelândia, o Julien e o Guillaume.
Jantámos todos nessa noite e decidimos viajar juntos.
Qualquer ser humano é um agente de viagens nas Fiji, por isso não foi difícil tratar de barcos e camas, difícil foi fugir às aldrabices. Toda a gente tem um esquema para por no bolso um extra.
Nananu-i-Ra foi o primeiro destino, uma ilha só para nós os quatro. Para nós e para o cães, que brotam da terra como coqueiros.
Soa bem, uma ilha deserta só para quatro pessoas, mas torna-se aborrecido passado pouco tempo. Não havia nada, para além de uma praia maravilhosa, e de dois hostels vazios. Éramos só nós.
Então decidimos ir para a Mana dois dias mais cedo, e que bom que foi.
Aí ficámos, num hostel-aldeia, onde eu e a Ana tínhamos uma casinha só para nós.
O staff do hostel de dia ocupava-se com as tarefas hoteleiras e de noite eram todos entertainers, cuspiam fogo e dançavam. No dia seguinte era como se nada fosse, a rececionista voltava ao tom sóbrio.
Guardámos os últimos dias para a Beachcomber, conhecida como a party island, onde todos pudemos exibir os nossos dotes de dançarinos, a solo. E assim nos despedimos, eles ficaram pelas Fiji e eu segui para Sydney.





Um planeta chamado Japão

Quando me perguntam qual foi o país que gostei mais até agora, é-me impossível escolher um. São destinos tão diferentes... Então não é sincero dizer que gostei mais daqui ou dali. Sei que são maravilhosos! Até consigo comparar a Austrália com a Nova Zelândia, mesmo encontrando diferenças estrondosas, as Fiji são completamente tropicais e o Japão é um planeta à parte. 

Nada é intuitivo, o mapa mental dos japoneses é curioso.
Não gostam de poluição, reciclam tudo, guardam o lixo em casa, que é recolhido separadamente todas as semanas, então não existem caixotes de lixo nas ruas. O lixo guarda-se, leva-se para casa. Parece que não faz moça, mas para um turista não é propriamente bom andar a acartar o seu lixo.
Não se pode fumar ao ar livre, mas em espaços fechados sim, o que contempla: quartos, cafés, restaurantes, etc. Porque o ar é de todos e num espaço fechado uma pessoa 
tem a opção de escolher se quer entrar ou não, e também por uma questão de poluição.

Higienomaníacos, as retretes são robots, senta-te que o show vai começar. Temos botões para música, para som de autocolismo, para controlar o volume, para duche, para duplo duche (se é que me faço entender) para intensidade do duche e temperatura. Todas estas opções não param, existe um botão de stop, se tivermos a sorte de saber ler caractéres japoneses fantástico, se não, muita coisa pode acontecer.
Na primeira vez, a minha intenção era puxar o autocolismo, mas parece que selecionei "lavar a cabeça", não estava posicionada corretamente e veio uma chuveirada lá de baixo que me molhou até à cabeça. E para parar? Não pára, é non-stop.

Tóquio é que sabe de moda, é hipnotizante, vale tudo.
Aquela sensação, de "gosto, mas não tenho coragem de vestir isto", não existe. 
E está no ar que se respira, eu e a minha irmã Ana que o digamos, comprámos umas perucas.
Foi em Tóquio que celebrei os meus 28 anos a cantar num karaoke privado.
Foi em Nikkó que entrei numa piscina termal toda nua, num onsen, não porque decidi ser excêntrica, mas porque é obrigatório.
E foi em Kyoto que dormi num salão de jogos, all night long.



segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

POUTO, O MELHOR LUGAR PARA ENCONTRAR A SORTE

Vim de Portugal até à Nova Zelândia com um encontro marcado com o Matheus, meu querido companheiro de viagem da ilha norte.
O Matheus é surfista e tem um carro, dois eixos que encaminharam a nossa rota nas primeiras semanas. Os dias de litoral e interior foram decididos consoante o mar, um plano mestre aqui do barão Botelho.
Ter um carro para viajar é o ideal, cada milímetro deste país é de apreciar. 
O carro, não é um 4x4, mas tem sido tratado como tal. 
O Matheus insiste em entrar serra a dentro com ele, e atolá-lo na areia sempre que pode.
Acabados de chegar a Pouto, (que é uma terra no meio do nada, tenho até a sensação de não nos termos cruzado com um único carro nas 2 horas que antecederam a chegada), decidimos ir ver o mar e explorar a costa.

-Teresa, vamos só ali ver aquele pico, mas vamos de carro eu acho que é de boa.
-Achas mesmo Matheus? A areia parece-me fofa...

 A nossa sorte é que a simpatia neozelandesa é incomparável! Conseguimos atolar o carro numa terra esquecida ao anoitecer e passado 1 minuto aparece ajuda: um Ser iluminado com uma 4x4. 
Mas não foi à primeira, tivemos de ir buscar o trator. Fomos na caixa da pick up a céu estrelado, na companhia duma cadela que se assemelhava a uma vaquinha em ponto pequeno, obesa. Todos contentes, com o vento no focinho, rumo a casa da cunhada deste senhor, a proprietária do trator. 
Para o resgate do carro veio a família em peso, o senhor da 4x4, a mulher, a irmã, os filhos e a cadelinha.
Perguntaram-nos:
-Mas tencionavam mesmo vir para Pouto, ou perderam-se? 
De tal forma era estranho Pouto ser uma atração turística.
Com esta odisseia, anoiteceu. E como Pouto não foge à regra, estava tudo fechado, não havia sítio para ficar ou jantar e decidimos ir para a cidade mais próxima.
Foi uma aventura sortuda! Quase que se acabaram as nossas barrinhas da sorte, como diz o Matheus.


OS HIPNOTIZADORES DE JACARTA

Todos os habitantes que encontrei em Jacarta a quem perguntei, acreditam sinceramente que há homens que hipnotizam as mulheres.
Para entrar no novo fuso horário, acabadas de aterrar, decidimos ir passear por Jacarta para não adormecermos às 3 da tarde.
No hotel perguntámos o que é que havia nas redondezas que desse para ir a pé.
Esta pergunta dá direito a um pedido de perdão, porque aquela reação reprovadora é de por as orelhas para trás.
- You cannot walk! Take a taxi and go to the mall!
E eu perguntava-me porquê, o que é que me poderia acontecer?
- They will hypnotize you! 
- I’m sorry?
- Yes they will hypnotize you! Don't let them touch you.
Eu pensei "Isto deve ser do inglês há aqui qualquer palavra que nos está a escapar".
Mas não, eu aprofundei o tema: acredita-se que na Indonésia, existe uma espécie de mago, segundo um balinês com quem conversei nessa noite, que oferece 2 feitiços: ser-se à prova de bala e ter o poder de hipnotizar as mulheres.
Para este segundo feitiço há várias interpretações, há quem diga que é uma macumba para as mulheres se apaixonarem perdidamente, basta que lhes toquem ou que os olhares se cruzem. Outros dizem que os hipnotizadores só querem roubar os bens de uma mulher e que estando num estado de hipnose, cede tudo de livre vontade!
Quem sou eu para duvidar, eles acreditam tão piamente neste assunto, que por segundos receei, e andei com os olhos postos no chão!

Mas eu de facto não pude comprovar, não fui hipnotizada!

ENCONTROS COM UM CARIOCA 2

Desta vez o Armando convidou-nos para ir beber um copo à Rocinha, no bar do Belo.
- Está bem Armando, obrigada… e não é perigoso?
- Tranquilo, disse ele, ia buscar-nos à entrada por ser a primeira vez.
Chega-se à Rocinha e temos umas dezenas de moto boys à espera do próximo cliente. O preço é fixo, 2 Reais para qualquer trajeto, seja para 10m ou para subir até lá a cima. Quando começa a ficar demasiado íngreme eles mandam-nos descer e foi o que me aconteceu. O Armando foi à frente e nós ficámos nos píncaros da Rocinha sozinhas.
Nitidamente não morávamos ali e toda a gente conseguia ver isso. 
Na verdade, não havia muita gente, o que acelerava o batimento cardíaco. 
A atitude que uma pessoa tem dita tudo, foi a única vez que tive medo na Rocinha e foi a única vez que fui tão observada. Bastou-me relaxar para ninguém me passar cartuxo.
O Armando entretanto encontrou-nos, e lá chegámos ao Bar do belo. A definição de bar é bastante engraçada para o estabelecimento em questão.
Era uma garagem com uma espécie de cozinha. As caipirinhas eram feitas num alguidar dos grandes, e os churrascos que tive lá mais tarde, eram feitos num tambor de uma máquina de lavar!
Mas o bar do Belo tinha um grande trunfo: o 1º andar.
Uma varanda no alto da Rocinha onde comíamos e bebíamos, conhecíamos pessoas novas e dançávamos ao som do DJ que podia ser qualquer um de nós.

Eu testemunho a favor: é a melhor vista do Rio de Janeiro!

 motoboy

O churrasco (no tambor da máquina de lavar).

ENCONTROS COM UM CARIOCA 1

Conhecer o Armando quando se vai para o Rio de Janeiro é fácil, a maioria da turma portuguesa que está por lá tem o Armando como um amigo, dos bons.
Eu, não fugi à regra, já vinha de Portugal com o número dele, mal cheguei falei-lhe e combinámos ir ao ensaio da escola de samba da Rocinha.
O ensaio não era na Rocinha era num pavilhão desportivo lá perto, tinha a favela na minha lista 'A Visitar' mas confesso que estava receosa.
Foi a minha primeira saída à noite no Rio e acho que me estreei em grande. 
Mal se entra deixa-se de andar e dança-se! A caminho do bar dança-se, para ir cumprimentar um amigo vai-se a sambar, qual caminhar?
O setor da bateria contava com centenas de pessoas. Aquela percussão passa aquela emoção que dá quase vergonha de expressar, mas ninguém pára por um segundo! Imagine-se a meteorologia deste pavilhão, se ao relento temos 30 graus à noite, lá dentro com um milhar de pessoas aos pulos, a condensação do ar é quase insuportável! Mas a música reanima qualquer um, de vez em quando temos de sair para dar uma 'respirada', mas sempre a bater o pé a cantarolar, até voltarmos a entrar.
Os outfits do ensaio iam de um extremo ao outro: tanto se viam (eu talvez não arrisque em dizer roupas, porque isso pressupõe tapar o corpo) enfeites lindos, como estamos habituados a ver na televisão, como também podíamos identificar aqueles que quiseram deixar o fato para o grande dia e foram de pijama, ou de roupa interior, mas a alegria é total em todos eles.

O início do ano no Rio são trunfos atrás dos outros, Natal, a 'virada' do ano e Carnaval, eu vivi o carnaval de Janeiro a Março.


BAILANDO EM VIÑA DEL MAR

Fiz um amigo para a vida no Brasil e fui ter com ele, e com a sua grupeta tipicamente chilena, a Santiago do Chile.
A família e o núcleo de amigos do Ian, o meu amigo, eram de Magallanes, Patagónia chilena, mais especificamente Punta Arenas, AKA Pólo Sul.
Mas o Ian nasceu na Ilha Grande da Terra do Fogo, é uma história de livro.
Isto para dizer que decidimos ir a Viña porque este núcleo de amigos de secundário, encontrava-se agora espalhado pelo Chile consoante a universidade, a maioria entre Santiago e Viña.
Adorei o caminho para Viña, quando chegamos à marginal é a ver e a sorrir.
Tínhamos “un assao”, que é um churrasco, (mas os chilenos gostam de comer a última consoante e em vez de assado, diz-se “assao”) à nossa espera, com muitas Escudo (cerveja) e Piscolas (pisco, um destilado de uva, misturado com Coca-Cola).
Fiquei sempre impressionada, em todos os convívios que tive, com a quantidade de comida e bebida que os chilenos ingerem!
Durante o churrasco fui tendo presságios do que me esperava, ouvia-se cumbia chilena e rock argentino. 
Como os brasileiros com o samba e os africanos com o kizomba, os sul-americanos não ficam nada atrás com os ritmos latinos, dançam mesmo bem!
Quando já não havia cordeiro a girar no pauzinho e já só havia cerveja, decidiu-se que iríamos dançar para uma discoteca.
Música eletrónica era tudo o que não me apetecia, mas estava animada para ir dançar.
Até que chegámos à discoteca e eu percebi que o conceito de discoteca pode variar muito. 
Era um bar de cumbia com música ao vivo, achei um máximo.
Sabes quando não sabes porquê mas começas com o pé errado e parece que ele decreta uma sentença de mau ritmo para essa noite?
Respira e abana-te - pensei - os braços são importantes, quem mexe só a anca e as canetas nota-se sempre que não domina a coisa.
Fiz de um tudo para evitar o dancefloor, estava com vergonha de não ter nada para troca: "não sou chilena, não sei dançar cumbia; mas sou portuguesa e sei dançar o quê? O vira?"
Estou a brincar, bastou-me olhar em volta e aquela música e energia contagiava tanto que era como se fossem 10 aulas compiladas de dança!

Just for the record: sou pró a dançar cumbia chilena!
 Os primeiros passos.
El 'assao'.

NÓS EM BALI

Foi combinada atabalhoadamente, fiámos-mos na sorte e no 'logo se vê'. Existe esta superstição nas nossas duas cabeças: se tivéssemos tudo planeado estávamos condenadas, por isso, decidimos ir com umas folhas de rascunho, onde tínhamos uma data de sítios que queríamos visitar sem data marcada e lá fomos nós.
Eu e a Sara, somos amigas de longa data, trabalhamos numa agência de publicidade 
e a nossa relação já estava mais digitalizada que vivida, isto pelos timings, budgets, insights e briefings que nos comiam as horas todas do dia. Um dia, a meio de uma passagem de briefing:
- ‘Bora’ para Bali?
- ‘Bora’!
Chegar a Bali não é só mudar de localização geográfica, nem ver praias maravilhosas com surfistas profissionais. Para além de uma cultura completamente diferente da portuguesa, desde os ritmos às crenças e da gastronomia às pessoas, em Bali somos diferentes. 
Existe ali qualquer coisa que nos chama muito alto!  
A abordagem constante de todas as pessoas que passam, que estão, que dançam, praticamente que existem em Bali, é aconchegante. 
No primeiro dia conhecemos um israelita, que nos apresentou a uma australiana, que viviam com uma brasileira e no segundo dia, jantámos em casa dos amigos brasileiros desta primeira brasileira, onde conhecemos japoneses, alemães, holandeses, balineses, 
e poderia enumerar todas as nacionalidades da América do Sul. Julgo que a América do Sul e a Austrália estão taco a taco nas estatísticas, são mais que os próprios balineses!
Ora estou na praia, ora estou no dancing, tanto como nasi goreng, como pizzas e a Bintag sempre presente. O que me leva ao ‘social’ de Bali. 
Engane-se quem pensa que em Kuta é que é, porque se for para Vila Moura é igual. 
No Uluwato mesmo, temos programas pelo menos para Domingos (e comecei pelo melhor), quartas, quintas e sextas! O Domingo merece especial atenção porque é a melhor festa, no Single Fin, começa por volta das oito da noite e à meia-noite 
já não se passa nada. Até este ritmo é bom, vive-se mais o dia que a noite, mas não se perde o convívio nem as energias noturnas.
Mas quem tiver vontade para continuar, tem um after que vai até à hora que se quiser, na loja de conveniência lá do sítio, “o Mercadinho”.
Julgo que já percebeu que fiz muitos amigos, uns com quem falo todos os dias, outros que me preencheram os dias com gargalhadas e rodadas de Bintangs!
E de Bali, trago em primeiro lugar as pessoas e os ritmos.


Vou voltar.



PARATY, CADUCO E O NOÉ


Apanhámos o ônibus do Rio para Paraty, já tinha estado em Paraty de passagem no ano anterior e ficou na minha lista de lugares a voltar.
Queríamos ir a Trindade, disseram-nos que era um paraíso. E é.
No segundo ônibus, de Paraty para Trindade perguntámos a um rapaz:
- Oi, 'cê' sabe qual a paragem para Trindade?
- Eu moro lá, disse o Caduco, que era como lhe chamavam.
Então saímos na paragem certa com o Caduco, que era estudante e pescador.
Por acaso tinha pescado um peixe grande nessa manhã e convidou-nos para almoçar na casa dele.
Fomos.
Tivemos de andar pelas praias e trilhas cerca de 45 minutos porque o Caduco vivia no meio do mato. Não foi fácil! Principalmente para um Ser como eu, que tem fobias de todo o género de insetos grandes e devo ter encontrado 99% das espécies existentes nesta caminhada... Mas lá fomos! 
Tenho a sensação de ter ido à Amazónia sem dar por isso.
O Caduco vivia numa espécie de celeiro que lhe tinha sido cedido por uma família amiga, porque ele era sozinho. Tinha uma história triste mas era um rapaz de 21 anos  com muita energia boa.
Tinha dois andares este celeiro, sem portas e sem janelas, refiro-me ao vidro em si, porque os buracos estavam lá. Ele dormia no primeiro andar, numa tenda porque às vezes chovia lá dentro. Que não vos soe a coitadinho, porque a casa era linda, mesmo.
Comemos o peixe com arroz e pirão, que é uma papa de farinha feita numa panela com o caldo da cabeça do peixe e o resto do peixe foi feito na folha da bananeira do quintal.
Estamos a almoçar, e as folhas começam a mexer em direção a nós, vinha lá alguém...
Aparece um cão meio coxo:
- Coitadinho, está coxo, observei.
- Deve ter sido uma cobra que o mordeu, isto anda cheio de cobras ultimamente, respondeu-me o Caduco.
Fiquei tão descansada...
Comecei logo a pensar em estratégias de saída dali que não envolvessem ter os pés no chão, quem sabe... voar?
Esqueci-me disto tudo passado 30 segundos, quando aparece o dono do cão.
Parecia que estávamos num set de rodagem, aparece um homem moreno, alto e bronzeado em tronco nu e descalço, a afastar as folhas da bananeira como se tivesse ensaiado a sua entrada num videoclip. O clube feminino ficou em silêncio. Total.
O meu cérebro fez-me um resumo das últimas 4 horas em frames:
Saí de casa hoje de manhã; apanhei um ônibus para Paraty; conheci um pescador; Estou na casa dele(!) que é no meio da Amazónia; ultrapassei as minhas fobias e agora tenho o Cauã Reymond cá do sítio à minha frente a fazer mais um dos seus truques de magia para o público feminino. 'Tá certo', ainda bem que saí de casa.
Falámos, chamava-se Noé (ainda por cima) o nome tinha tudo a ver.
Tinha sido a família do Noé que tinha cedido a casa ao Caduco, eram amigos de longa data e todos os dias estavam juntos.
Começou a anoitecer e o meu alarme dos medos começou a tocar "Então se 'isto ultimamente tem andado cheio de cobras' vai ser um forrobodó para o meu sistema nervoso descer este quilómetro até à praia às escuras", pensei e resolvi agir
- 'Bora'?
Voltámos para Paraty que é um romance só!
Muito português, muito arranjadinho e com o calor brasileiro é uma conta de somar com resultado certo.


Paraty e Trindade continuam na minha lista: A Voltar!